12 de janeiro de 2011

População de Itaipava diz que sempre foi atingida pelas chuvas

Área do rio Santo Antonio é uma das mais afetadas pelas cheias


A população das localidades de Benfica e Vale do Cuiabá, em Itaipava, distrito de Petrópolis, na região serrana do Rio, está acostumada a sofrer com a força das chuvas. Quem mora próximo ao rio Santo Antonio sente mais os efeitos das cheias. No entanto, os relatos dos sobreviventes dizem que nunca a água chegou ao nível que alcançou nesta quarta-feira (12). Somente em Petrópolis, até o final da tarde desta quarta, foram 18 mortos.

Nério da Costa Mesquita, de 83 anos, alugava uma casa em Benfica e perdeu tudo. Só lhe restou a roupa do corpo.

- Começamos a levantar as coisas, mas não imaginamos que a água ia subir tanto. Foi muita água. Agora tenho de esperar, sem água [para beber], sem mantimento, sem nada.

O proprietário da casa de Mesquita, Nilson Moreira de Macedo, que mora no mesmo terreno, também mantinha uma oficina na área. Também perdeu o local onde morava e todos os objetos de trabalho.

- Não afetou só minha casa, mas o local de trabalho. Moro aqui há 35 anos. Nunca vi nada assim.

Gilson Pereira Constantino foi ajudar os amigos a limpar as casas em Benfica.

- É a primeira vez que vejo a água chegar a essa altura. Foi até o teto.


Macedo, filha de Mesquita, já havia se mudado porque sempre tinha alagamentos, mas nunca viu nada nesse nível. Foi socorrer os pais.

- Cada vez é pior. O rio continua o mesmo, mas não temos estrutura habitacional e a população aumentou. Também não temos tratamento de esgoto é cada um por si.

Maria Aparecida Almeida da Silva, que mora no vale do Cuiabá, apontava para o local onde ficava sua cozinha, seu local de trabalho. Do imóvel restava só uma parede. O fogão, que ainda não havia sido quitado, foi levado pela enxurrada. A cozinheira estava em choque.

– Essa era minha cozinha. Eu moro, quer dizer, morava ali em frente. Foi tudo muito rápido, num estalar de dedos. O pessoal joga lixo nas ruas, o rio precisava ser dragado, mas simplesmente não tinha vazão, era muita água.

A cozinheira já havia tido problemas com chuvas há aproximadamente três anos.

- Até agora não recebemos ajuda da prefeitura, nem água [potável]. Os vizinhos é quem estão comprando água e distribuindo roupa. Já enfrentei outros deslizamentos há quase três anos, também perdi tudo. A prefeitura me deu R$ 3.500 para eu me estabelecer e agora perdi tudo novamente.

O prefeito de Petrópolis, Paulo Mustrangi, estava na tarde desta quarta na região de Itaipava. Ele conversava com moradores e vistoriava a área.

- É um desastre muito grande. A população está colaborando. As casas mais afetadas estão no leito do rio Santo Antonio. A água veio em grande quantidade.

Mobilização do Estado

O vice-governador, Luiz Fernando Pezão, fez um sobrevoo na região. As equipes das secretarias de Saúde e Defesa Civil, Obras, Assistência Social e Ambiente estão atuando nos locais atingidos.

Nesta manhã, Cabral pediu ao comandante da Marinha Brasileira, almirante Júlio Moura, aeronaves para o deslocamento de mais tropas e equipamentos do Corpo de Bombeiros, o que será providenciado.

Na manhã de quinta-feira (13), o governador irá à região serrana. Cabral informou lamentar profundamente a perda de vidas nessa tragédia causada pelas chuvas e manifesta a sua solidariedade às famílias, inclusive às dos bombeiros que morreram no momento em que se deslocavam, em Nova Friburgo.

Estradas com problemas

A rodovia BR-040, estrada que liga o Rio de Janeiro ao município de Juiz de Fora, em Minas Gerais, passando por Petrópolis, está com o trânsito em mão dupla em vários trechos por conta de alagamentos e deslizamentos de terra na pista.

No trecho que passa pelo município de Três Rios, na região serrana, entre os kms 30 e 33, a pista está em mão dupla em regime de pare e siga por causa do alagamento da pista no sentido Rio de Janeiro. Segundo a assessoria de imprensa da Concer (concessionária que administra a rodovia) o alagamento repentino na região pode ter sido causado pelo rompimento de uma barragem da região.

Já em Areal, também na região serrana, a rodovia está em mão dupla no km 43,5, na pista sentido Rio de Janeiro, em razão de obras para a construção de um retorno.



Cidades sem luz

O fornecimento de energia em Nova Friburgo está interrompido em todo o município. As subestações Thadeu Aor e Conselheiro Paulino estão inundadas e Julius Arp não pode ser religada por questões de segurança, impossibilitando o restabelecimento imediato do fornecimento de energia à cidade.

De acordo com a Energisa, empresa responsável pela distribuição em Nova Friburgo, a situação é de alerta máximo e está mobilizada, inclusive com reforço de equipes extras, para resolver os problemas relacionados ao fornecimento de eletricidade.

Ainda segundo a empresa, as ruas da cidade, assim como as rodovias de acesso ao município, estão interditadas o que atrapalha o transporte das equipes aos locais que apresentam problemas.

Já em Teresópolis o fornecimento de energia está sendo restabelecido de forma gradual. De acordo com a Ampla, concessionária responsável pela distribuição, o fornecimento para grande parte dos clientes já foi restabelecido. A situação está sendo normalizada à medida que as equipes da concessionária conseguem acessar as áreas afetadas para realizar os reparos.

A pedido da Defesa Civil algumas áreas tiveram o abastecimento suspenso por medidas de segurança. A normalização está sendo feita após as devidas inspeções da Defesa Civil para assegurar que não há risco à população.

A Ampla afirma que já foi normalizado o fornecimento de energia nos bairros Alto, Comary, São Pedro, Várzea e Barra do Imbuí.

Na região de Areal, em Petrópolis, uma subestação foi inundada, obrigando a concessionária a desligar o fornecimento de energia para evitar acidentes elétricos.

Ajuda da Cruz Vermelha

A Cruz Vermelha Brasileira do Rio de Janeiro vai encaminhar 600 litros de água mineral, 70 cobertores, 68 colchões, 50 kits de higiene contendo sabonetes, pasta e escova de dente, papel e absorventes higiênicos, como doação emergencial para as centenas de famílias, vítimas das chuvas, que atingiu a região serrana.

O departamento de socorros e desastres já iniciou um plantão na sede localizada na praça Cruz Vermelha, no centro do Rio, para receber água mineral, alimentos de pronto consumo (massas e sopas desidratadas, biscoitos, cereais) leite em pó, colchões, roupa de cama e banho e cobertores, para atender a região serrana.



A concessionária que administra a rodovia RJ-116, que liga os municípios de Itaboraí, Nova Friburgo e Macuco, informou que a estrada tem mais de 20 pontos com queda de barreiras. Há locais onde o asfalto cedeu, abrindo crateras.

Fonte: R7

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