26 de setembro de 2011

Tubarões. Boa e má notícia. Qual você quer primeiro?

Tubarões

Boa e má notícia. Qual você quer primeiro?
Texto de Marcelo Szpilman*

Nessa semana recebi duas notícias relevantes relacionadas aos tubarões, uma boa e uma ruim. Qual você quer primeiro? Comecemos pela boa.
Substância encontrada em tubarão tem potencial antiviral humano (veja links abaixo)
Não é de hoje que a biologia e a medicina estudam e pesquisam na Natureza substâncias biodinâmicas com potencial farmacêutico. Essa notícia mostra, mais uma vez, o quanto a biodiversidade marinha pode ser útil para humanidade ao possibilitar a descoberta de novas substâncias com poder curativo.
A boa notícia diz que, de acordo com o estudo conduzido pelo Centro Médico da Universidade Georgetown, nos Estados Unidos, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences no dia 19 de setembro, o composto esqualamina, sintetizado, desde 1995, em um processo não envolvendo tecido natural de tubarão, foi testado no tratamento de câncer e distúrbios oculares diversos e, em experimentos realizados, demonstrou atividade antiviral contra vírus que variam de dengue e febre amarela a hepatite B, C e D.
Para acessar a notícia
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/978489-substancia-encontrada-em-tubarao-detem-virus-da-hepatite-b.shtml
http://ciclovivo.com.br/noticia.php/3406/composto_de_tubarao_tem_potencial_para_tratar_tumores_humanos

Como eu já dizia em meu livro Tubarões no Brasil (2004): “Pesquisas desenvolvidas nos EUA com o cação-bagre (gênero Squalus) têm fornecido pistas interessantes para a medicina. A proteína esqualamina, encontrada no estômago, fígado e vesícula biliar desse tubarão, já demonstrou inibir o crescimento de tumores em cérebros humanos. Descobriu-se também que quase todas as células de seu corpo contêm um poderoso antibiótico. Esse novo composto, uma substância química da mesma família do colesterol, não pertence a nenhuma classe de antibiótico conhecido. Surpreendentemente, ele se mostrou bastante efetivo contra um grande espectro de micróbios, incluindo fungos, bactérias e parasitas. Uma versão sintética desse antibiótico vem sendo testada em uma grande variedade de doenças humanas.”
Ou seja, os tubarões podem vir a salvar nossas vidas, se já não estiverem extintos, é claro. O que nos remete à má notícia (abaixo).
Comprovada a extinção de uma espécie de tubarão no litoral brasileiro
Venho ao longo dos últimos anos alertando que já temos 43% das nossas espécies de tubarão com algum grau de risco de extinção e que nas próximas décadas algumas, infelizmente, estarão extintas. Para minha tristeza e, acredito, para muitos também, no trabalho recém-publicado no jornal Biological Conservation, Osmar Luiz Jr e Edwards Alasdair, que realizam pesquisas sobre a ecologia dos peixes do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, comprovaram a extinção de uma população de tubarões-das-Galápagos no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, situado na região Norte do Brasil.
E ninguém melhor para falar sobre o assunto do que o próprio Osmar Luiz Jr. Nesse sentido, pedi a ele que fizesse um resumo do problema. Veja a seguir.
a) Tubarões sempre existiram em grande abundância no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, cuja excepcional quantidade foi notavelmente registrada por navegadores e exploradores durante mais de 150 anos, incluindo Charles Darwin durante sua viagem no HMS Beagle. A impressão geral é de que os tubarões ocorriam no Arquipélago em quantidades extraordinárias, segundo relatos de viajantes experientes e acostumados a vida no mar. A espécie de tubarão foi identificada como sendo o Tubarão-das-Galápagos (Carcharhinus galapagensis) em uma das últimas expedições em que esta espécie foi avistada.
O Arquipélago é um ponto de referência histórico nas navegações que cruzavam o Atlântico no passado. Por conta disso, vários exploradores e navegadores possuem relatos em seus diários sobre o local. Uma das coisas que mais chama a atenção nestes relatos é a descrição de quantidades absurdas de tubarões. Estes tubarões foram identificados posteriormente como Carcharhinus galapagensis e como a população principal do Arquipélago. Outras espécies podem ocorrer esporadicamente por lá, como o tubarão-baleia e o tubarão-martelo, mas são só de passagem. População residente mesmo só a de Carcharhinus galapagensis, que não existe mais, e a de Carcharhinus falciformis (Lombo-preto), que era vista no Arquipélago até 1993 e agora também pode ser considerada extinta funcionalmente (não exerce mais sua função ecológica), pois as únicas avistagens são exemplares de mar aberto capturados pelos barcos de pesca.

b) Após o estabelecimento da estação de pesquisa em 1998 pela marinha do Brasil, o monitoramento ambiental no Arquipélago foi iniciado de maneira continuada, porém em mais de 10 anos de visitas, incluindo 13 expedições especialmente realizadas para o levantamento da fauna de peixes do local, nunca mais se viu um Tubarão-das-Galápagos por lá.

c) Análises estatísticas aplicadas à quantidade, e a disposição dos registros históricos associados às observações realizadas na última década, dão suporte à conclusão de que o Tubarão-das-Galápagos foi extinto no Arquipélago. Um fato que certamente deixariam surpresos os navegadores do passado que lá estiveram e viram milhares destes animais ao redor das ilhas. Estas análises também sinalizam que o início do declínio populacional dos tubarões "coincide" com o início da pesca comercial no Arquipélago, provendo um forte indício de que a pesca teve um papel fundamental neste processo.

d) Duas conclusões principais emergem deste estudo: 1. Em menos de quatro décadas, a pesca comercial no Arquipélago de São Pedro e São Paulo conseguiu levar à extinção uma espécie que era extremamente abundante durante quase dois séculos. Esse fato vem sendo deliberadamente ignorado por quem defende a pesca no Arquipélago como sustentável. 2. Este estudo demonstra a importância de se incorporar registros históricos em avaliações de impactos humanos em ambientes marinhos. Se todo o nosso conhecimento sobre a fauna do Arquipélago de São Pedro e São Paulo fosse baseada apenas nas pesquisas iniciadas após o estabelecimento da estação científica, estaríamos correndo o risco de concluir que estes tubarões nunca teriam existido no local. Este foi o primeiro estudo a utilizar esta análise, chamada de "ecologia histórica", aplicada a conservação marinha no Brasil. Muito mais ainda precisa ser feito.

Eu diria ainda que o estudo serve para confirmar cientificamente aquilo que o Projeto Tubarões no Brasil vem alardeando: a sobrepesca e a pesca predatória dos tubarões, incluindo o finning, estão acabando com as populações de tubarões ao redor do Planeta. Os tubarões exercem um papel crucial na manutenção da saúde e do equilíbrio da vida nos mares. Sem esses guardiões dos oceanos, teremos um ambiente doente e frágil e os decorrentes desequilíbrios nos ecossistemas marinhos serão imprevisíveis e catastróficos para a humanidade.
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Proteger os tubarões é proteger a vida, é proteger a nós mesmos!

Projeto Tubarões no Brasil (PROTUBA)
Instituto Ecológico Aqualung
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