Nuvem de poluição cobre Los Angeles e indica urgência para nações chegarem a acordo sobre mudanças climáticas (Foto: Terry Lathem/NASA)
No centro do pesadelo econômico, a União Europeia é justamente quem tenta dar a dinâmica das negociações em Durban. Após apresentar, logo no primeiro dia da COP-17, uma proposta que falava em compromissos para 2020 e foi rechaçada por quase todos, os europeus evoluíram para outra proposta que pode destravar o nó das negociações. Ela aponta o ano de 2015 como data limite para a assinatura de um acordo para substituir Kyoto. Esse novo acordo entraria em vigor em um prazo de no máximo dois anos após sua assinatura.
A proposta da União Europeia teria o apoio de Austrália e Nova Zelândia, ao passo que Japão, Canadá e Rússia já manifestaram o desejo de não dar prosseguimento a Kyoto. O fiel da balança, mais uma vez, são os Estados Unidos e os países do grupo conhecido como BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China). A pressão sobre os EUA é maior do que nunca. O país, que não é signatário do Protocolo de Kyoto, sequer votou em seu parlamento as novas leis climáticas, mas estaria sensível ao discurso europeu que prega o esforço conjunto para conduzir as negociações ambientais a bom termo até que a parte mais aguda da crise econômica já tenha passado.
Em situação econômica mais confortável que os europeus, os países do BASIC experimentam na COP-17 uma inédita posição de força nas negociações climáticas. O chefe da delegação da China, Su Wei, fez na quarta-feira (30) um pronunciamento em nome de todo o grupo, no qual reafirmou o apoio dos principais países emergentes a um segundo período de implementação para o Protocolo de Kyoto.
Sobre a proposta da União Europeia, Wei foi evasivo: "Podemos até considerar alguma parte da sugestão europeia, mas não há condições de afirmar agora que teremos metas obrigatórias de redução das emissões em 2020", disse o chinês. Ele acrescentou que seria mais importante lutar por avanços mais concretos já em Durban: "Achamos que a União Europeia está apenas adiando o momento de decidirmos sobre as ações climáticas."
O próprio Wei, no entanto, dá a chave que pode destrancar as negociações e até fazer com que os países do BASIC aceitem adotar algumas metas obrigatórias nos próximos anos: o Fundo Climático Verde, mecanismo por intermédio do qual os países ricos ajudariam financeiramente os países mais pobres a manterem suas florestas em pé. Em nome do BASIC, o diplomata chinês fez um apelo à COP-17 para que a conferência determinasse de onde virão os US$ 100 bilhões iniciais necessários a suprir o Fundo.
Discutida desde a COP-15, realizada há dois anos em Copenhague (Dinamarca), a idéia de criação do Fundo Climático Verde ganhou força no ano passado, durante a COP-16, realizada em Cancún (México). Um grupo formado por representantes de 40 países foi criado para discutir a implementação do fundo ambiental, mas os trabalhos ao longo de 2011 não deram muito resultado. Na última reunião do grupo, realizada em outubro, EUA e Arábia Saudita bloquearam as negociações, alegando problemas políticos internos: "É preciso que os países ricos realizem rapidamente a capitalização do Fundo e que os recursos fiquem sob a responsabilidade da COP", pediu Su Wei.
Em uma sinalização de que o Fundo Climático Verde poderá mesmo servir como moeda de troca para destravar as negociações em busca de um acordo para 2015, o negociador-chefe da União Europeia na COP-17, Artur Runge-Metzger, defendeu que sua concretização aconteça já em Durban: "Acreditamos que seria improdutivo termos mais discussões técnicas a respeito. Queremos a direção do Fundo funcionando em 2012", disse o diplomata alemão.
Por: Maurício Thuswohl, especial para a Rede Brasil Atual
Publicado em 02/12/2011, 09:09
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