4 de março de 2011

Prece pelos cães acorrentados


” Querido dono,

Consegui que escrevessem esta carta
por mim. Nem sabes a alegria que sinto por poder comunicar contigo. Todos os
dias, desde aquele dia longínquo em que me colocaste a corrente no pescoço e me
prendeste neste espaço, eu sonho que me vens visitar e fazer festinhas como me
fazias quando eu era um bébé. Eu sonho que vens conversar comigo, não entendo
muito bem o que me dizes, mas nem imaginas como adoro ouvir o som da tua
voz!

Eu sei que fiz algo de errado, senão certamente não me terias
colocado aqui. Desculpa! Não quero ser exigente mas começa a doer ter esta
corrente atada ao meu pescoço. Ás vezes tenho o pescoço dormente, e outras vezes
tenho muita comichão e nem consigo coçar! Sinto o seu peso todos os dias, o peso
da solidão que me prende.
Tenho vontade de esticar as pernas e correr e como
eu gostava de poder fazer isso contigo. Adorava que me atirasses umas bolas, aí
eu podia mostrar-te como sou rápido a correr e como tas trazia rapidamente.
Gostava de poder ver o que tu vês, o mundo lá fora é muito grande? E existem
outros como eu?
Ás vezes tenho sede e alguma fome mas eu aguento em silêncio
porque sei que assim que podes vens cá dar-me comida e água, sei que fazes o que
podes, eu não quero incomodar, mas sabes, por vezes gostava de ter um pouco da
tua companhia.
Sei que talvez alguém te tenha dito que eu não tenho
sentimentos, mas olha que é mentira! Nem imaginas quanta alegria sinto quando
alguém me toca ou se dirige a mim. Nem sabes quanta tristeza e solidão pesa em
mim nas longas horas que não vejo ninguém. Nem sabes o medo que por vezes sinto
no Inverno aqui sozinho, e tenho tanta vontade de estar perto de ti.

Eu sou o teu amigo mais fiel, nunca te irei trair, não guardo rancor, e
não tiro nunca o lugar de ninguém, será que tens mais amigos assim no teu mundo?
Só queria um pouco mais da tua atenção e amor, uma cama quente no inverno, um
local fresco no verão e o teu cheiro a entrar-me nas narinas todos os dias,
seguido de um sorriso e uma festa no meu velho lombo.
Eu sei que um dia tu
irás chegar aqui e tirar a corrente, e dar-me tudo isto, até lá eu fico quieto á
espera. Só não demores muito meu dono, porque estou a ficar velho e começo a ver
e ouvir mal. Faltam-me forças e não quero ir, sem viver um pouco contigo.
do
teu cão”

Se virem um cão aprisionado,
imprimam esta carta e coloquem na caixa do correio dos donos. Em nome de todos
os “cães”, obrigado.

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